Suspensão do X: entenda o que é VPN, por que foi proibida para acessar a plataforma e como ela protege a sua navegação
A suspensão da plataforma X trouxe à tona o debate sobre o uso de VPNs, gerando muitas dúvidas e preocupações. Neste artigo, explicamos de forma clara o que é uma VPN, como ela funciona para proteger sua navegação, por que foi mencionada na decisão judicial, e por que você não deve temer seu uso no dia a dia. Esclareça tudo sobre essa tecnologia de maneira simples e objetiva!
TECNOLOGIA
Daniel Azevedo de Oliveira Maia
9/8/20245 min ler
Nos últimos dias, o Brasil vivenciou um marcante episódio envolvendo a suspensão da mídia social "X" (antigo Twitter) por decisão judicial do Min. Alexandre de Moraes. Sem adentrar no mérito e nos fundamentos jurídicos da decisão, bem como em aspectos políticos que nada interessariam ao conteúdo do texto, um dos aspectos inusitados foi a proibição, pelo magistrado, do uso de uma "VPN" pelos usuários para acessar a plataforma, sob pena de multa de R$ 50.000,00.
Não tenho dúvidas de que muitas pessoas que fazem uso desse mecanismo em seu ambiente de trabalho ficaram receosas e quiseram entender melhor o contexto.
Afinal, o que é uma VPN? Para que serve e por que eu preciso disso?
A VPN, de forma bastante simples, é uma Rede Privada Virtual (em inglês, Virtual Private Network, ou, simplesmente, VPN). Ok, acredito que isso não tenha sido suficiente, certo? Então, vamos mastigar tudo e explicar bem do início.
Imagine que você contratou um plano de Internet de uma das operadoras conhecidas. Esse processo você provavelmente já conhece: um técnico virá à sua residência, instalará alguns equipamentos, realizará algumas configurações e pronto. Em breve, você será mais um nó na rede mundial de computadores (Internet). Basicamente, são instalados um modem e um roteador (ou ambos, em um único equipamento, como é comum). O modem é o aparelho onde vai o cabo ou fibra óptica que vem da rua, conectando sua residência à rede da operadora. O roteador, como o nome diz, "roteia" a Internet para os demais dispositivos da sua residência, criando uma rede interna (por exemplo, gerando um sinal de Wi-Fi para seu notebook, celular, etc.).
Agora, vamos ao contexto prático: você chegou em casa, sentou-se em seu computador e conectou-se à Internet. A partir desse momento, a sua operadora de Internet contratada vai gerar e lhe fornecer um endereço IP (é como se ela estivesse criando um "RG" ou "CPF" para a sua máquina, para que ela seja identificada perante outras redes). Os interessados saberão seu IP público quando você se conectar, de modo que conseguirão saber de onde você está acessando.
Com a Internet em casa, você decide, do seu notebook, acessar um determinado site. Talvez o meu site: https://daniel-azevedo.com :)
O processo de "ida" e "volta", de forma resumida, funciona assim: os dados saem da sua máquina, passam pelo roteador/modem, e os dados são MODULADOS (daí o "MO" da palavra modem) e transformados em pacotinhos, que irão trafegar pelos cabos/fibras na rua até chegar ao seu provedor de Internet. Seu provedor consegue acessar esses dados, afinal, estão passando por ali de forma "exposta". Em seguida, o provedor, que se conecta ao restante do mundo por outras conexões (chamadas de backbones), enviará os seus dados para o destino que você deseja — neste caso, o servidor que hospeda o meu website. O servidor, que contém a página que você deseja acessar, enviará de volta todas as informações que você solicitou, fazendo o mesmo caminho de volta: os dados chegam à operadora, são enviados para o seu modem, o sinal é DEMODULADO (daí a palavra "DEM" de modem), e, em seguida, os dados chegam à sua máquina. Agora você sabe que o MODEM tem este nome pois MOdula e DEModula sinais (em tecnologias de fibra óptica, é um pouco diferente, mas não vamos nos preocupar com isso por aqui).
É aí que entra a ideia da VPN.
Imagine que você baixou um software de VPN (recomendo fortemente o uso de VPNs pagas, pois geralmente são mais seguras) e ativou a funcionalidade de VPN. O que acontece neste momento? Lembra que, ao acessar o site, você enviava dados para o servidor de destino? Pois bem, isso continuará acontecendo, no entanto, esses dados serão CRIPTOGRAFADOS, embaralhados, misturados, tornando-se ininteligíveis, incompreensíveis. De forma simplificada, é como se o dado, do tipo "12345", se transformasse em algo como "@XbZ5$%asd3". Isso acontece com todos os demais.
Os dados, agora criptografados, são enviados novamente, do mesmo modo, para a sua operadora de Internet, que os encaminhará ao servidor de VPN ao qual você se conectou. Isso significa que todo o percurso, da sua máquina até o servidor de VPN, está criptografado. Como se tivessem viajado por um túnel. Mesmo que alguém intercepte seus dados, jamais conseguirá ver o que você enviou.
Daí a importância de usar VPNs em redes públicas (cafés, aeroportos, etc.), pois o dono dessa rede, pelo fato de seus dados não estarem criptografados e transitarem "expostos", poderia ler esses dados. Os dados que saem da sua máquina, via Wi-Fi, para o roteador da rede pública, não são criptografados. Um hacker, em um ataque do tipo "Man-in-the-Middle", poderia interceptar suas requisições, mas com a VPN isso se torna bastante improvável. Lembre-se de que há diversas pessoas conectadas a essa mesma rede!
Uma vez que os dados criptografados chegam ao servidor de VPN, ele consegue descriptografá-los, reorganizá-los e, agora sim, direcioná-los ao destino final. Lembre-se: apenas os dados entre o seu computador e o servidor VPN são criptografados. Hoje, porém, na maioria dos casos, muitos sites usam o protocolo HTTPS, e os dados trafegam criptografados. Porém, se o site não adotar HTTPS, você certamente vai se deparar (acho que já se deparou) com uma mensagem do tipo: "Este site não tem uma conexão segura. Deseja continuar?".
Mas daí você pergunta: certo, Daniel, e o que isso tem a ver com a decisão do ministro que proibiu o uso de VPN no Brasil para acessar o "X"?
O grande ponto é: uma vez que o servidor de VPN descriptografa seus dados, ele os redireciona ao site que você acessou. No entanto, quando o servidor de destino recebe seus dados, ele entende que a requisição veio do local onde está o servidor da VPN, e não da sua operadora. O servidor de destino, obviamente, não verá o seu IP público fornecido pela operadora, mas sim o IP do servidor de VPN! Muitos desses servidores de VPN estão hospedados em outros países (Estados Unidos, Alemanha, etc.). Deste modo, usar a VPN para acessar o "X" seria uma forma de contornar as restrições judiciais, pois o usuário, ao ativar a VPN e acessar o "X", faria com que o servidor do "X" entendesse que o acesso está sendo feito de outro país, como os Estados Unidos ou Japão, e não do Brasil (claro, é preciso usar uma VPN que não seja brasileira).
Portanto, a VPN, além de criptografar os dados, serve também para "mascarar" a origem das suas solicitações e dados na web, fazendo com que o servidor de destino "entenda" a solicitação como sendo de um país diferente. É por isso que muitas pessoas usam VPNs para acessar conteúdo que não está disponível em seu país de origem, como alguém, aqui no Brasil, acessando o catálogo de filmes da Netflix na França. Se eu me conectar à Internet e acessar a Netflix, apenas os filmes disponíveis no Brasil aparecerão. Todavia, se eu acessar a Netflix por meio de uma VPN francesa, o serviço entenderá que quem está acessando é o servidor da VPN da França, como se, de fato, a requisição tivesse partido deste servidor.
Portanto, para esclarecer potenciais dúvidas: não, você não está cometendo um crime ao usar uma VPN em sua residência. Não é crime usar VPN no seu local de trabalho. VPN não é um artifício ilícito de trafegar dados na web. As empresas utilizam VPN para que, você, de sua casa, se conecte ao computador da empresa como se, de fato, estivesse in loco na empresa, de forma presencial, pois, de sua casa, ao se conectar à VPN, sua requisição chegará ao servidor VPN (mantido pela empresa) e o tráfego para os sistemas internos será interpretado como vindo da empresa, o que será interpretado como se você estivesse realmente nas dependências do local de trabalho.
Espero que, com estas informações, tenha conseguido esclarecer como funciona a tecnologia de VPN e a importância de utilizá-la no dia a dia, bem como as implicações que envolvem a controvérsia do X!
Daniel Azevedo de Oliveira Maia